sábado, 21 de junho de 2008

A Taverna


Autor: Thiago Araujo

"bom esse foi o primeiro conto que escrevi ainda enquanto estudava, uma época em que eu tinha muitas idéias, mas nunca concluia nenhuma, esse foi o unico que terminei, vou posta-lo para comparar o quanto melhorei daquela epoca para hoje.
Até o próximo sábado..."



Esta é uma história que não deveria ser contada, podem tomar uma pessoa por louco, mas em algum momento, manter isso para si se torna um peso por demais para ser agüentado por uma pessoa normal. Escrever é uma saída, não tão confortável ainda, mas é o que posso fazer por hora.


Aconteceu comigo, enquanto andava pelas ruas do meu bairro, não é um lugar extremamente grande, mas um desacostumado poderia se perder facilmente por suas ruas parecidas, e eu nunca fui uma pessoa bairrista. Nesse dia eu já havia saído de um bar, mas não havia ainda bebido o suficiente e estava atrás de outro local para tal. Fui andando, dobrando esquinas e passando por vielas, e logo estava em um local desconhecido, não devia ter passado muito das onze, e nesse local todas as casas já estavam fechadas e com luzes apagadas. havia passado por uma praça bem cuidada e que continha um coreto, as casas eram de muros baixos e arquitetura antiga, realmente eu parecia estar em outra época.


Andava observando, quando encontrei a taverna, parecia antiqüíssima, o tipo de legado passado de pai para filho, a placa de madeira talhada em baixo relevo tinha o nome “PUB LILITH” , havia apenas uma pequena porta de madeira entreaberta, não resisti e entrei no lugar, normalmente eu iria preferir um lugar mais agitado, mas dada a atmosfera local fui atraído.


Entrei pela porta, que ao ser empurrada anunciou minha entrada com um alto rangido, havia sete pessoas no pub, três em uma mesa redonda de madeira no canto esquerdo, outras duas, em outra mesa ao lado direito, e uma sentada no banco ao balcão, todas olharam para mim, mas voltaram logo ao que faziam, exceto a pessoa do balcão, que me olhava mais minuciosamente.


Sentei em um banco ao balcão, a uma certa distancia da pessoa que ainda me observava. Via a placa que dizia o que tinha para beber, quando ele sentou-se ao meu lado.


- sirva uma bebida a ele, por minha conta.
- obrigado...
- Você não é daqui certo? Como você faz isso? fica com a pele corada desse jeito. Esse seu disfarce é perfeito.


Não entendi nada do que ele dizia, mas estranhei sua aparência, com o que ele me disse, e agora que o observava bem, pude reparar em como ele era pálido, não só ele mas todas as pessoas que aqui se encontravam.


Ele ia falar algo novamente, quando um novo rangido o cortou para dizer que outra pessoa havia chegado na taverna, era uma mulher de cabelos castanhos, parecia apenas perdida. Ela chegou ao balcão, do lado dessa pessoa que falava comigo e sentou-se.


Agora sim reparei no balconista, que era bem forte. quando a mulher sentou-se ele saiu de trás do balcão, foi até a entrada e olhou lá fora. Voltou, e de súbito agarrou a mulher pelo pescoço, que começou a se debater e gritar, mas a força do balconista era extremamente anormal, visto que ele nem piscava com os golpes da mulher, ninguém se importou, na verdade para eles era a coisa certa que devia acontecer. O balconista a arrastou para uma porta atrás do balcão. Saiu de lá alguns minutos depois, e sem falar nada os outros dois que estavam na mesa ao lado direito entraram.


pode-se imaginar a reação de uma pessoa normal ao ver algo assim acontecer, mas eu tive de manter a calma, tentar não parecer surpreso diante de tal cena.


- o próximo que entrar é nosso. – foi o que o meu “amigo” ao lado disse. Logo em seguida o balconista me serviu a bebida, uma caneca grande de um líquido vermelho. Não precisei pensar muito para ver que aquilo no copo era sangue.


Agora estava apavorado, em que tipo de culto maligno eu havia entrado? Certamente eles me confundiram com algum membro deles pois senão provavelmente aconteceria comigo o mesmo que aconteceu com a mulher. Meus pensamentos foram interrompidos.


- sabe se não soubéssemos reconhecer um aos outros eu não acreditaria que você é um de nós. Mas agora com você aqui do meu lado, bebendo e aguardando a vez...


Beber, eu ia ter de beber aquilo se quisesse manter meu disfarce. Sangue e eu meu intimo sabia que aquilo era sangue humano.


- como você gosta de fazer? Se for um homem deixe que eu o subjugue, eu gosto de ver a impotência da vítima diante de nosso poder, antes de matá-lo.


Apesar de já ter idéia do que havia acontecido com a mulher, ainda assim estremeci quando ele disse isso, afinal poderia ter sido eu a estar lá, precisava descobrir logo um meio de sair daquele lugar antes que outra pessoa entrasse ali.


- é melhor beber logo antes que fique ruim.


É, teria de fazer aquilo, e aproveitar essa pequena deixa para tentar sair daqui. Reuni toda a coragem que ainda me restava, peguei a caneca e dei um gole, bebi bastante, para não deixar dúvida a meu observador. Fiz o Maximo para ignorar o líquido espesso de gosto metálico que engolia. Desci a caneca com uma pequena batida.


- na verdade preciso ir, obrigado pela bebida. – respondi prontamente, mas com uma repulsa reprimida do que havia feito.
- espere aí, você ainda nem me disse seu nome.
- nem você o seu.


Agora ele ficou desconcertado, olhando para os lados de relance, como procurando uma resposta.


- ta bem, sem nomes então, mas você ainda não me ensinou como fazer o disfarce.


Já estava me sentindo estranho, uma náusea me sabia pelo esôfago, sentia vontade de por aquilo que bebi para fora.


- olha eu preciso mesmo ir embora.
- vai negar um segredo para um da ordem?


dessa vez ele disse em um tom mais alto, e todos que estavam ali, inclusive o barman, pararam por um instante e viraram os olhos para nós. Neste instante eu fique congelado, literalmente, não conseguia me mover estava gelado talvez até pálido se pudesse me ver, tinha estragado meu disfarce e isso me custaria a vida.


Ele ainda me olhava, agora novamente com segundas intenções, como logo no início.


- tudo bem, você esta com pressa, mas isso não deve demorar.
- OK. – foi tudo o que pude dizer enquanto sentava-me, usando o que me restava dos meus nervos e forças.


Precisava pensar o que fazer agora, tinha que sair logo dali, e a náusea subia cada vez mais.


- por que não me diz se você tem alguma técnica para isso e eu te ajudo.
- tudo bem. Eu quando me disfarço, faço o sangue correr nos lugares visíveis, apenas mão e rosto, o resto fica coberto.
- faça o sangue ir para o coração, e bombeio de lá.


Ele me olhou um tanto inquisidor, virou o rosto para a mesa, poucos segundos, mas extremamente longos para mim.


- como se estivesse vivo. – disse sem nem me olhar, essa frase me abriu um novo leque de suposições de onde estava, e o que eles eram – mas isso iria requerer litros de sangue.


Eu já não sabia o que poderia dizer, por sorte ele prosseguiu, agora me olhando.


- eu entendo, por isso você não desfez o disfarce quando entrou, seria muito difícil refazê-lo. Irei praticar essa técnica, obrigado mesmo.


Ele realmente parecia satisfeito e eu tinha minha chance de ir embora.


- até mais. Levantei-me para sair – e para meu horror, a porta rangeu pela terceira vez, agora entrava um homem.
- tem certeza que vai embora? – a voz do meu “amigo” soou lá de trás, com um tom diferente. Me senti agora numa armadilha, mas a náusea me subia com uma velocidade extraordinária, precisava sair daquele lugar, mesmo que me arriscando, e além disso se permanecesse aqui com certeza não me seguraria por mais tempo.
- eu já estou atrasado para meu compromisso.


Sai sem olhar para ninguém, e logo ao sair o balconista ainda apareceu ao lado de fora, olhou para os lados e voltou, ainda pude escutar o grito da luta do homem que havia entrado. Andei apressado, quase correndo e ao virar a primeira esquina, pus para fora o que bebi...


Isso foi a dois dias, tentei voltar ao lugar no dia seguinte mas não consegui encontrar o caminho, nada me pareceu familiar, não encontrei a praça, nem as casas de arquitetura clássica.


Duas pessoas estavam morta e eu não pude fazer nada, por isso faço esse relato para que não me culpem e implorar para entendam pelo que passei aquela noite, e compreendam por que não fiz nada.

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