sábado, 5 de julho de 2008

A Porta para o Nada - Parte Final


Autor: Thiago Araujo

"Parte Final do conto até o proximo sabado, talvez pq ta dificil de arrumar uma net..."


Entramos e ele insistiu para fazer o um chá, de acordo com ele sempre foi assim com meu avô, e não duvidei pois sabia onde encontrar tudo, acabei acatando seu pedido. Sentamo-nos na sala de estar de frente para a lareira, que estava apagada claro, afinal ainda era manhã. Comecei minhas interrogações.

- meu avô era bem diferente, você por acaso sabe o que ele fazia aqui?
- ah seu avô era uma pessoa muito curiosa, para tentar explicar tenho que contar tudo que sei sobre seu avô. – é como toda pessoa de idade Jamal também gostava de se alongar em suas histórias.

- conheci Armand a cerca de vinte anos atrás. Sabe este é um lugar místico sagrado, onde o povo da minha tribo agradecia aos espíritos do céu, terra, aguá, fogo e da floresta. Antigamente esse ritual acontecia a cada sete dias, mas com o progresso do homem a dissolução da tribo o costume foi se perdendo, passou a ser uma vez por mês, e logo uma vez por ano e foi numa desses rituais anuais que conheci Armand, ele era um explorador e veio conhecer a tribo, ficou espantado com tudo que acontecia durante a ritual, acho que, naquele dia ele pode ver mais do que todos na tribo o significado daquilo.

- quando a tribo se desfez seu avô comprou o lugar e construiu essa casa. eu sou o único da minha tribo que ainda vem aqui uma vez por semana para que o costume não se perca, seu avô sempre deixou que eu fizesse meu ritual. Ele dizia que podia ver os espíritos e que planejava fazer contato com eles.

- então meu avô achava que podia falar com espíritos?
- Armand era uma pessoa muito espiritualizada, quem poderia dizer se era verdade ou não? Você esta aqui a quanto tempo? Também não viu algum espírito?

Não quis responder a essa pergunta, na verdade não sabia como responde-la, e ele pareceu satisfeito com meu silencio, demonstrando um sorriso fino e furtivo.

- se me permite eu gostaria de fazer minhas preces.
- Claro fique a vontade, não perca sua viagem.

Passei o resto do dia vendo-o preparar uma fogueira para o ritual enquanto me contava historias de sua tribo. Era uma tribo muito antiga mesmo, dizia ele que eles eram o que sobrou do povo de machu pitchu antes de desaparecer sem explicação, dizia que seus guerreiros eram capazes de incorporar espíritos guerreiros que chamavam de totens, e que coagiam e trocavam favores e oferendas para obter ajuda de outros espíritos não guerreiros, para colheitas, chuvas e fertilidade de suas mulheres. Eu era um ótimo ouvinte e ele gostava de falar.

Quando terminou a fogueira ele começou o ritual, eu fique da varanda dos fundos apenas observando, enquanto tomava um café. Ele fazia uma dança rodeando a fogueira, isso já era um pouco tarde, ele não se apressou nem um pouco para a preparação e ainda parou para almoçar, por isso já estava anoitecendo.

Seus passos era hipnotizantes e enquanto o fazia, parecia se formar uma leve neblina em volta e acima da fogueira, quando eu prendia meu olhar nessa névoa era como se visse imagens, rostos se formavam, rostos de sofrimento e um rosto me pareceu familiar dentre essas formas, paisagens desérticas e sombrias, e outras formas inconcebíveis ou que eu não conseguia interpretar. É claro que se fosse em outro lugar em outra circunstancia isso não me surpreenderia nem um pouco, seria como olhar aquelas manchas que os psicólogos tem, cada um vê o que quer, mas este lugar me causava arrepios e esse dia com Jamal e suas histórias não contribui muito para me acalmar.

Depois que acabou perguntei a Jamal se ele gostaria de passar a noite aqui. Sua reação me impressionou, por ser uma pergunta simples. Vi em seu rosto um espanto e medo mudo, mas não em relação a minhas palavras, era mais como se o que eu disse o tivesse remetido a uma lembrança ruim, adormecida em algum canto de sua mente onde ele não queria mais chegar perto. Ele respirou fundo antes de responder.

- não jovem, essa terra não me pertence mais...
- tem certeza? A noite eu escuto animais selvagens pela redondeza.
- não se preocupe, eu estou de moto, e além disso eu sou um velho nativo, eu sei como me cuidar.
Com isso dito subia a moto e o ronco do motor afirmava sua ida.

Fiquei ali na varanda por um tempo meditando, o que será que ele lembrou para ter aquela reação, e também tentava me lembrar o que fazia pela manha antes da chegada de Jamal. Mas um par de olhos brilhantes no mato adiante fez-me perer qualquer raciocínio, entrei rápido, tranquei a porta e fiquei observado pela janela, pela forma, pequena e pouco furtiva parecia mesmo um lobo, mas nessa escuridão a certeza era impossível.

Peguei a arma sobre a lareira, uma calibre 12, e olhei todos os cômodos para certificar-me de estar tudo trancado, pior do que acordar com aquele barulho infernal, seria acordar com um par de presas me rasgando a pele. Com tudo seguro, podia relaxar, mesmo ouvindo os uivos lá fora, fui preparar algo para comer e ir logo dormir.

E ora, para minha surpresa acordei apenas na manhã seguinte, tive um sono tranqüilo e sem sonhos. Por mais uma noite pude relaxar por completo nessa calmaria e paz. A única diferença foi que essas noites os animais pareciam estar mais próximos. Jasper também me ligou para saber como estava e se precisava de algo, e de imediato disse que tudo estava bem, para que não se preocupasse, que estava tendo dias tranqüilos, pescando, lendo e relaxando, ele pareceu satisfeito e disse que se precisasse de algo bastaria ligar.

Já estava ficando convencido que o barulho que ouvia era paranóia de minha parte, por ser a primeira vez a estar em um lugar sem nenhuma poluição sonora e sem nenhum ser humano por perto também.
Mas nessa terceira noite acordei novamente com a batida na porta, um pouco mais fraca desta vez. Passei pelo corredor sombrio, e assim que me aproximei não havia mais barulho. Voltei para a cama e dormi. Passei o dia seguinte ocupado consertando um painel do gerador solar que havia se soltado e praticamente não pensei no barulho até a noite.

As 03:00 da madrugada ouvi um estrondo imenso, fui de imediato ao corredor, apenas para ficar ainda mais apavorado, algo batia uma violência sobrenatural naquela porta, podia vê-la tremer a cada investida do que quer que fosse que lá estivesse, desci correndo, peguei a arma e subi, me aproximando da porta podia ouvir uma voz, não uma voz, um som gutural, parecido vir do fundo de uma caverna, pouco podia distinguir o que aquele som intimidador queria dizer, mas podia entender a ordem de “abra” no meio daquela balburdia, as batidas já estavam mais fracas, ao menos isso não era incansável, quando estava a cerca de meio metro da porta gritei “o que é que esta aí”, e imediatamente o barulho cessou, seguido por aquele silencio medonho.

Desci como uma bala e com o abajur que estava sobre a escrivaninha arrombei aquela gaveta trancada, procurando qualquer coisa que pelo menos me aliviasse da tensão que havia passado.. encontrei lá dentro um diário, que folheei rapidamente, pois estava escrito naquele mesmo idioma da porta, e uma caixinha, finamente trabalhada com entalhes também naquele idioma, onde encontrei uma chave dourada.

Peguei-a e subi até a porta. Eu devia estar louco nesse momento, mas com a arma em punho e mais do que preparado, enfiei a chave no buraco da fechadura, girei-a e pude ouvir o clique da tranca que há muito não se abria, chutei-a e empunhei a arma.
Não vi nada, apenas a noite, um céu sem nuvens, podia enxergar qualquer constelação de onde estava se as conhecesse. Ainda estava tenso, mais abaixei a arma e examinei tudo com mais calma e atenção, e percebi lá embaixo, devia haver uns dez lobos, talvez a alcatéia inteira estivesse ali, sentados e me encarando.

- animais desgraçados! – gritei e atirei na direção deles, tudo por conta do ódio que sentia no momento. Todos dispersaram rapidamente, mas pude ver que atingi um, havia um corpo ali que não se mexeu.
Preparei um chá antes de voltar para o quarto, já estava menos tenso e consegui cair no sono rápido.

Acordei na manha seguinte com o sol já bem alto. Sai até o local onde matara o lobo e constatei com muita estranheza que não havia corpo ali, mas havia muito sangue, com certeza o animal deveria estar morto, não sou zoólogo e não me importava o que havia acontecido, a menor de minhas preocupações agora era um lobo morto, pois agora notara, eu havia deixado aquela porta aberta, não sei em que esse ato poderia resultar, mas agora sentia um medo apenas de entrar na casa, mesmo de dia.

Dei umas duas voltas na casa antes de reunir coragem suficiente para adentrar. Assim que o fiz corri ao quarto e peguei a arma, não iria mais me separar dela.
Fui para o escritório, grato pela tecnologia que hoje temos, peguei aquele diário e comecei a pesquisar sobre aquele diário na internet. Perdi umas três horas até encontrar algo de relativa confiança, um tradutor, comecei a copiar a primeira pagina.

Dizia algo sobre o inicio de uma pesquisa que Armand iniciara a muitos anos. Somente este parágrafo que ficou muito traduzido me chamou a atenção.

“aprender xiak espíritos com ypalinay neo gamani espíritos dalak sunnin plano superior significa que eles malak akidar no alto astolton rarkaniome ali rui rugark portal dos mortos”

Apenas essas palavras que me chamaram atenção “portal dos mortos”. Digitei mais alguns textos e tentei novamente, mas já não conseguia nada, estava sem o sinal de radio, meu celular também não funcionava mais. Um estresse começava a me assolar, já me sentia totalmente perdido, e para piorar já estava anoitecendo.

Consegui controlar-me um pouco tomando um calmante, mas mantive-me acordado até as 03:00 da madrugada, quando ouvi a batida.
Dessa vez uma batida suave, nada daquela violência anterior.

- Doug? Você esta ai?
Paralisei, aquela era com certeza a voz do meu avo, levantei a arma.
- É mentira! Não pode ser você!
- Não temos tempo, me deixe entrar logo.
Eu já havia decidido dar pelo menos um tiro nesta coisa que me enlouquecia, mas diante desta nova perspectiva fiquei sem ação. Por fim virei a chave na fechadura dei dois passos atrás e preparei-me para atirar.
- esta aberta

A porta rangeu ao abrir-se, e o que eu vi ali era a figura calva e baixa de cabelos grisalhos de que me recordava, talvez um pouco mais velho, pois fazia alguns anos que não o via, ele ainda esperou alguns segundos, para confirmar que eu não ia disparar, depois entrou e fechou rapidamente a porta.

- há muitas coisas ruins daquele lado.
- meu deus Armand! O que significa isso? Você ressuscitou? – finalmente explodi depois de tanta anormalidade.
- não Doug, isso é temporário. Mas venha, vamos descer vou lhe preparar um chá, tenho cerca de meia hora para lhe explicar alguma coisa. - Ele se adiantou para a cozinha eu ainda custei para fazer as pernas me obedecerem

Ao chegar a cozinha a chaleira já estava no fogo e as xícaras separadas. Sentei-me, agora um pouco mais relaxado.
- bom então me explique o que acontece aqui.
- algo complicado de explicar em tão pouco tempo...
- simplifique! – cortei-o.
- veja bem Doug, eu sou um homem viajado e rico, pude presenciar praticamente tudo pelos quatro cantos do mundo – ele sentou-se de frente para mim – nos últimos anos presenciei uma tribo que conseguia realmente falar e abter ajuda de espíritos...

- a tribo de Jamal!
- vejo que o conheceu, esta certo a tribo de dele, os Inkatrat, descendentes das tribos maias. – apenas assenti com os olhos.
- bom assim comecei minha pesquisa neste lado espiritual e desconhecido, estudei sobre egípcios, celtas, voodo, tudo que possa imaginar, mas no fim acabei voltando para este lugar que foi o inicio de tudo, e descobri aqui que tudo, espíritos, demônios, tudo vem daquele lugar. - ele apontou para cima, obviamente queria dizer o outro lado da porta.

- e que lugar é este?
- é como se fosse uma via, um lugar onde todos os mundos e tempos coincidem, eu o denomino “o encontro”.

A chaleira apitou nesse momento, ele pausou sua narrativa para servir o chá. Eu não me importei com a pausa, aproveitei para meditar sobre essa idéia por um instante, com que tipo de coisa Armand havia se metido?

Ele serviu o chá e sentou-se novamente, tomou um gole da xícara, também bebi, e a quentura me reanimou um pouco para continuar a escutá-lo.

- e por lá também é possível alcançar o mundo subseqüente a este, do qual eu vim. – continuou ele.
- então existe um céu e inferno?
- não saberia defini-los, provavelmente haja um caminho até esses lugares, mas o importante é que eu tenho estudado esse lugar, ainda não sei por que ou como isso vai ajudar a mim ou a outros, mas sei que minha pesquisa precisa ser continuada.
- e o que eu... – comecei a sentir-me tonto, meus músculos, relaxaram perdendo as forças, as pálpebras fecharam-se e tudo ficou escuro.
-doug?... – ainda pude ouvi-lo chamar.

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Recobrei a consciência em um lugar estranho, um deserto cinza, com um céu preto, sem nenhum ponto que pudesse chamar de estrela.

Levantei a cabeça e sentei-me com dificuldade, quando olhei para frente minha mente desanuviou-se, lá estava, no outro lado da porta no corredor, uma pessoa, mas não uma pessoa qualquer, era eu que estava ali, minha imagem, a uns dez metros de mim, na verdade ele estava dentro da casa e eu do outro lado do que pude supor ser a maldita porta, tentei levantar-me mas não consegui, segui então do jeito que pude, arrastando-me.

- sabe Doug! – a voz que escutava era a minha, mas o jeito de falar, com certeza era Aramnd – Quando eu disse que minha pesquisa precisava ser continuada, quis dizer que “eu” preciso continuá-la – já havia me arrastado uns cinco metros, mas ainda não conseguia emitir som algum – Claro q sem sua contribuição isso seria impossível, eu precisava de um veiculo para este mundo, e, principalmente alguém para me substituir aí, ou ele viriam atrás de mim. – estava a um metro da porta, quando ele ele aproximo-se.

- Adeus Doug, não o esquecerei farei o que puder a você.
A porta rangeu fechando, ainda observei o batente em forma de gárgula uns segundos antes da porta desaparecer em pleno ar, sem deixar vestígio algum, deixando apenas a visão do deserto cinza. Tentei gritar, mas somente um grunhido saiu de mim, e este ainda foi suprimido por um som gutural, que eu so podia pensar ser “eles”.

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Um grande Sol laranja despontava no horizonte, e a despeito do hábito da natureza, uma grande quantidade de lobos enfileirava-se em frente a casa. O homem saiu e a cada passo se, como se para um rei, os lobos abaixavam a cabeça em reverencia. O homem levou o celular ao ouvido.

- Jasper, dez dias se passaram. Haja com a papelada, mas não venda esta propriedade, e traga-me mais suprimento, irei morar aqui por uns tempos...

sábado, 28 de junho de 2008

A Porta Para o Nada


Autor: Thiago Araujo


"sem muito comentario jaque esta é apenas a primeira parte, espero que se animem em ler a segunda.


até sabado"




- Então é essa a casa que herdei de meu avô.
A casa era realmente magnífica, uma mansão enorme, possui até um pequeno lago na parte posterior do lugar. Meu avô, Armand, era excêntrico, para não dizer maluco, mas era um gênio arquiteto e como projetou e construiu a casa não era de se admirar que existisse na construção um pouco, talvez muito de sua excentricidade, a começar pela localidade, afastada cerca de um pouco menos de duas horas de qualquer lugar habitado, até mesmo a estrada de terra foi feita por ele, e agora rodeando a casa posso ver a maior excentricidade que poderia imaginar, no elevado do segundo andar, havia uma porta para fora, uma porta de madeira, com batedor em forma de gárgula, não sabia o que pensar daquilo.



- a casa é essa mesmo, o terreno se estende até quase onde a vista alcança. Seu avô nunca disse como adquiriu o lugar, isso deve ter custado uma fortuna. – dizia Jasper, que era amigo de infância do vovô e seu consultor.



- por quanto você acha que posso vender o lugar, obviamente não vou querer viver aqui.
- muito alto, somente pela extensão do lugar, mas se preocupe com isso apenas depois de cumprir a clausula de permanecia.



É claro, como mais uma das loucuras de meu avô, ele pôs uma clausula de permanência antes de me desfazer da propriedade, deveria ficar aqui por pelo menos dez dias, por sorte não é algo impossível, como estou longe de qualquer lugar, basta que eu fique sem nenhum veiculo durante esse período que não poderei sair.



- você não terá problemas, a casa esta abastecida como foi mandado, e possui seu próprio gerador elétrico.
- não estou preocupado, na verdade vai ser até bom ficar isolado por um tempo estava precisando mesmo de um descanso.
- aqui estão todas as chaves de todos os aposentos da casa, exceto daquela porta do segundo andar, eu testei todas mas nenhuma funciona.
- tudo bem, não pretendia usá-la mesmo.
- certo então eu já vou indo para não pegar a estrada a noite, se precisar de algo me ligue pelo celular, já que aqui não tem linha
- até mais.



Bom, não me importei com ele indo embora, agora iria entrar e conhecer a casa.
O molho de chaves era espantoso, devia conter cerca de vinte chaves, pelo menos estavam nomeadas, e pude encontrar facilmente a chave da entrada.



O hall era gigantesco, podia-se ver o segundo andar daqui, o qual para acesso havia duas escadas laterais, também havia um grande candelabro de cristais bem no centro, parecia mais um salão de festas que um hall. Segui pelo corredor central que havia entre as escadas, no final claro havia uma porta para a parte posterior da casa, aqui sim a vista era aberta, podia-se ver o lago e um pequeno bosque que dava no pé de umas elevações que iam ficando maiores até chegar ao pé de uma cadeia de montanhas, diferente da vista da frente, que dava para um densa floresta.



Voltei olhando os outros cômodos, perto da saída estava o banheiro, seguindo havia uma sala de estar gigantesca, com uma lareira ao extremo, também havia uma porta de acesso deste lugar para o hall. No outro lado do corredor, uma sala de jantar ligada a cozinha e um acesso da cozinha para a lavanderia, a sala de jantar também tinha uma porta para o hall.
Restava agora apenas o segundo andar, os quartos, seis no total pelo que Jasper me contou.



Logo de frente para as escadas havia um corredor de uns cinco metros que dava para aquela porta estranha, um corredor mal iluminado, havia quadros em branco pendurados pela parede até a porta, e como Jasper disse nenhuma das chaves funcionaram ali, deixei logo o lugar de lado, era até meio assustador, e fui ver os quartos. Pela esquerda estava a suíte principal, enorme, um banheiro com uma jacuzzi, e um escritório próprio, esse era o quarto que dormiria por esse mês. Desse lado ainda havia mais dois quartos simples, seguindo pela direito no final havia outro banheiro, e mais três quartos grandes, e virando o final do corredor havia uma porta com uma escada para o sótão, o qual não me dei o trabalho de olhar, já estava começando a escurecer, havíamos vindo tarde, desci para checar o gerador, que era abastecido a luz solar.



Para finalizar esse dia preparei algo para comer e assisti televisão no quarto até dormir.
Passei uma noite tranqüila, exceto durante a noite quando começou a ventar e fiquei ouvindo uma batida em algum lugar, mas estava com muito sono e não me incomodei, voltando a dormir quase que instantaneamente.



Passei o dia seguinte inteiro pescando no lago, que apesar de pequeno tinha uma variedade grande de peixes, fiz uma pescaria com um resultado excelente, peguei uma carpa enorme, duas tilápias, e um tucunaré, além de um bluegill que devolvi ao lago. preparei a carpa e uma tilápia para jantar.



Fui dormir tarde novamente, assistindo televisão. Acordei pela metade da noite, cerca de 2:00 da madrugada com a batida, desta vez tive que me levantar para localizar de onde vinha esse barulho para consertar pela manhã, afinal ia ficar um mês ali e não ia querer essa batida toda a noite.



Fui seguindo atrás do som, e com certeza ele vinha daquela porta, aquele corredor fica muito escuro a noite, mesmo com essa iluminação precária, talvez até colocasse uma iluminação melhor aqui, no escuro, pensei até ter visto algo se mexendo nestes quadros. Encostei o ouvido na porta, era aquela gárgula, aquele batedor estava balançando com o vento e fazendo esse barulho.



Pela manhã preparei a escada e subi até a porta, que, de frente assustaria algumas pessoas, a gárgula tinha expressão aterrorizante, como se querendo que ninguém viesse por ali, e pela porta toda havia talhadas inscrições em algum idioma desconhecido para mim, alguma escrita indígena, olhar para aquilo e imaginar o que estava escrito me causava até arrepios. Passei uma fita isolante naquele batedor e desci logo.
Passei mais um dia no ócio total nada fiz o dia inteiro, apenas cochilei e assisti a TV, por esse motivo esses dias estava dormindo tarde.



A noite, novamente pelo mesmo horário, aquela batida começou de novo, que tormento, pela manhã ia pregar aquele batedor ou então tirá-lo dali.
Não dormi bem essa noite, tive um pesadelo estranho, com rituais em volta de uma fogueira e aparições com rostos demoníacos que arrancavam a alma das pessoas em volta da fogueira, das quais não conseguia enxergar os semblantes.



Acordei bem tarde e fui pregar aquele batedor, a fita isolante havia soltado com a umidade da noite.
Passei o dia caminhando por uma trilha que encontrei, levava até o monte atrás do lago, estranhei esse dia, por onde caminhei não vi nenhum animal, não escutei um pio de um pássaro, nem mesmos os peixes estavam visíveis hoje como ontem. Fui dormir com um certo pesar, poderia ter chamado alguém para essa estadia, ou mesmo um pesar por ainda não estar casado aos 28 anos.



Acordei no meio da noite novamente, o relógio marcava 1:50 e aquela batida novamente, dessa vez não acreditei, havia pregado aquilo, não poderia ter soltado. Levantei e fui até a porta, senti um certo arrepio atravessando o corredor sentia-me sendo observado, por imagens invisíveis naqueles quadros em branco.



Recostei o ouvido na porta para escutar o som, mas desta vez percebi com certo horror o que acontecia, o local da batida não vinha exatamente do meio da porta, onde estava o batedor, e sim mais do alto, afastei-me de súbito assustado, a batida parou. Procurei um lugar para olhar, mas a fechadura era de um modelo mais novo e não dava para olhar e a parte de baixo da porta era extremamente rente ao chão, nem uma carta de baralho devia passar por ali, mas a batida cessou com o barulho que fiz tentando ver o lado de fora.



Encostei de novo, escutei um sussurro, apenas por alguns segundos, que cessou para vir novamente aquele silêncio mórbido. Voltei para a cama e custei a dormir novamente, pensando em ligar para Jasper pela manhã, mas pensando bem o que ele poderia fazer, ele apenas pensaria que já estava enlouquecendo e pediria para que voltasse, e eu só estava aqui a quatro dias.



Acordei neste quinto dia apreensivo, peguei a escada para olhar a porta e confirmei para meu desespero o que já sabia, o batedor ainda se encontrava pregado, desci desnorteado sem saber o que fazer em seguida, acabei por tentar encontrar algo em todos os papéis desta casa dos infernos. Procurei pelo escritório do andar inferior, vasculhei gavetas e armários, não encontrei nada além de plantas da casa, contas velhas dos custos da obra e outros papéis de planejamento, entre outras coisas cotidianas e triviais, faltou apenas olhar uma gaveta trancada da bancada principal, estava subindo para buscar o molho de chaves no quarto, quando escutei um barulho de motor do lado de fora.



Sai para ver se era Jasper, mas o que vi foi um senhor muito enrugado de cabelo negro e liso, de pele bronzeada, o que me indicou um parentesco indígena, usava uma jaqueta de couro, daquelas de gangue de motoqueiros e um óculos grande de lentes escuras. Ele parou tirou os óculos e me observou, parecia mais espantado que eu ao ver uma pessoa diferente ali, por fim perguntou.



- Armand está? – tinha um pequeno sotaque, se tinha parentesco indígena, isso foi a muito tempo.
- Armand morreu a quinze dias.
- oh, bem – ficou bem desconcertado.
- você conhecia meu avô?
- então você é neto dele, sim o conhecia, a uns três anos desde que ele se mudou para este lugar.
- entre você pode me contar alguma coisa sobre meu avô e este lugar.
- claro, meu nome é Jamal. - eu sou o Douglas.

sábado, 21 de junho de 2008

A Taverna


Autor: Thiago Araujo

"bom esse foi o primeiro conto que escrevi ainda enquanto estudava, uma época em que eu tinha muitas idéias, mas nunca concluia nenhuma, esse foi o unico que terminei, vou posta-lo para comparar o quanto melhorei daquela epoca para hoje.
Até o próximo sábado..."



Esta é uma história que não deveria ser contada, podem tomar uma pessoa por louco, mas em algum momento, manter isso para si se torna um peso por demais para ser agüentado por uma pessoa normal. Escrever é uma saída, não tão confortável ainda, mas é o que posso fazer por hora.


Aconteceu comigo, enquanto andava pelas ruas do meu bairro, não é um lugar extremamente grande, mas um desacostumado poderia se perder facilmente por suas ruas parecidas, e eu nunca fui uma pessoa bairrista. Nesse dia eu já havia saído de um bar, mas não havia ainda bebido o suficiente e estava atrás de outro local para tal. Fui andando, dobrando esquinas e passando por vielas, e logo estava em um local desconhecido, não devia ter passado muito das onze, e nesse local todas as casas já estavam fechadas e com luzes apagadas. havia passado por uma praça bem cuidada e que continha um coreto, as casas eram de muros baixos e arquitetura antiga, realmente eu parecia estar em outra época.


Andava observando, quando encontrei a taverna, parecia antiqüíssima, o tipo de legado passado de pai para filho, a placa de madeira talhada em baixo relevo tinha o nome “PUB LILITH” , havia apenas uma pequena porta de madeira entreaberta, não resisti e entrei no lugar, normalmente eu iria preferir um lugar mais agitado, mas dada a atmosfera local fui atraído.


Entrei pela porta, que ao ser empurrada anunciou minha entrada com um alto rangido, havia sete pessoas no pub, três em uma mesa redonda de madeira no canto esquerdo, outras duas, em outra mesa ao lado direito, e uma sentada no banco ao balcão, todas olharam para mim, mas voltaram logo ao que faziam, exceto a pessoa do balcão, que me olhava mais minuciosamente.


Sentei em um banco ao balcão, a uma certa distancia da pessoa que ainda me observava. Via a placa que dizia o que tinha para beber, quando ele sentou-se ao meu lado.


- sirva uma bebida a ele, por minha conta.
- obrigado...
- Você não é daqui certo? Como você faz isso? fica com a pele corada desse jeito. Esse seu disfarce é perfeito.


Não entendi nada do que ele dizia, mas estranhei sua aparência, com o que ele me disse, e agora que o observava bem, pude reparar em como ele era pálido, não só ele mas todas as pessoas que aqui se encontravam.


Ele ia falar algo novamente, quando um novo rangido o cortou para dizer que outra pessoa havia chegado na taverna, era uma mulher de cabelos castanhos, parecia apenas perdida. Ela chegou ao balcão, do lado dessa pessoa que falava comigo e sentou-se.


Agora sim reparei no balconista, que era bem forte. quando a mulher sentou-se ele saiu de trás do balcão, foi até a entrada e olhou lá fora. Voltou, e de súbito agarrou a mulher pelo pescoço, que começou a se debater e gritar, mas a força do balconista era extremamente anormal, visto que ele nem piscava com os golpes da mulher, ninguém se importou, na verdade para eles era a coisa certa que devia acontecer. O balconista a arrastou para uma porta atrás do balcão. Saiu de lá alguns minutos depois, e sem falar nada os outros dois que estavam na mesa ao lado direito entraram.


pode-se imaginar a reação de uma pessoa normal ao ver algo assim acontecer, mas eu tive de manter a calma, tentar não parecer surpreso diante de tal cena.


- o próximo que entrar é nosso. – foi o que o meu “amigo” ao lado disse. Logo em seguida o balconista me serviu a bebida, uma caneca grande de um líquido vermelho. Não precisei pensar muito para ver que aquilo no copo era sangue.


Agora estava apavorado, em que tipo de culto maligno eu havia entrado? Certamente eles me confundiram com algum membro deles pois senão provavelmente aconteceria comigo o mesmo que aconteceu com a mulher. Meus pensamentos foram interrompidos.


- sabe se não soubéssemos reconhecer um aos outros eu não acreditaria que você é um de nós. Mas agora com você aqui do meu lado, bebendo e aguardando a vez...


Beber, eu ia ter de beber aquilo se quisesse manter meu disfarce. Sangue e eu meu intimo sabia que aquilo era sangue humano.


- como você gosta de fazer? Se for um homem deixe que eu o subjugue, eu gosto de ver a impotência da vítima diante de nosso poder, antes de matá-lo.


Apesar de já ter idéia do que havia acontecido com a mulher, ainda assim estremeci quando ele disse isso, afinal poderia ter sido eu a estar lá, precisava descobrir logo um meio de sair daquele lugar antes que outra pessoa entrasse ali.


- é melhor beber logo antes que fique ruim.


É, teria de fazer aquilo, e aproveitar essa pequena deixa para tentar sair daqui. Reuni toda a coragem que ainda me restava, peguei a caneca e dei um gole, bebi bastante, para não deixar dúvida a meu observador. Fiz o Maximo para ignorar o líquido espesso de gosto metálico que engolia. Desci a caneca com uma pequena batida.


- na verdade preciso ir, obrigado pela bebida. – respondi prontamente, mas com uma repulsa reprimida do que havia feito.
- espere aí, você ainda nem me disse seu nome.
- nem você o seu.


Agora ele ficou desconcertado, olhando para os lados de relance, como procurando uma resposta.


- ta bem, sem nomes então, mas você ainda não me ensinou como fazer o disfarce.


Já estava me sentindo estranho, uma náusea me sabia pelo esôfago, sentia vontade de por aquilo que bebi para fora.


- olha eu preciso mesmo ir embora.
- vai negar um segredo para um da ordem?


dessa vez ele disse em um tom mais alto, e todos que estavam ali, inclusive o barman, pararam por um instante e viraram os olhos para nós. Neste instante eu fique congelado, literalmente, não conseguia me mover estava gelado talvez até pálido se pudesse me ver, tinha estragado meu disfarce e isso me custaria a vida.


Ele ainda me olhava, agora novamente com segundas intenções, como logo no início.


- tudo bem, você esta com pressa, mas isso não deve demorar.
- OK. – foi tudo o que pude dizer enquanto sentava-me, usando o que me restava dos meus nervos e forças.


Precisava pensar o que fazer agora, tinha que sair logo dali, e a náusea subia cada vez mais.


- por que não me diz se você tem alguma técnica para isso e eu te ajudo.
- tudo bem. Eu quando me disfarço, faço o sangue correr nos lugares visíveis, apenas mão e rosto, o resto fica coberto.
- faça o sangue ir para o coração, e bombeio de lá.


Ele me olhou um tanto inquisidor, virou o rosto para a mesa, poucos segundos, mas extremamente longos para mim.


- como se estivesse vivo. – disse sem nem me olhar, essa frase me abriu um novo leque de suposições de onde estava, e o que eles eram – mas isso iria requerer litros de sangue.


Eu já não sabia o que poderia dizer, por sorte ele prosseguiu, agora me olhando.


- eu entendo, por isso você não desfez o disfarce quando entrou, seria muito difícil refazê-lo. Irei praticar essa técnica, obrigado mesmo.


Ele realmente parecia satisfeito e eu tinha minha chance de ir embora.


- até mais. Levantei-me para sair – e para meu horror, a porta rangeu pela terceira vez, agora entrava um homem.
- tem certeza que vai embora? – a voz do meu “amigo” soou lá de trás, com um tom diferente. Me senti agora numa armadilha, mas a náusea me subia com uma velocidade extraordinária, precisava sair daquele lugar, mesmo que me arriscando, e além disso se permanecesse aqui com certeza não me seguraria por mais tempo.
- eu já estou atrasado para meu compromisso.


Sai sem olhar para ninguém, e logo ao sair o balconista ainda apareceu ao lado de fora, olhou para os lados e voltou, ainda pude escutar o grito da luta do homem que havia entrado. Andei apressado, quase correndo e ao virar a primeira esquina, pus para fora o que bebi...


Isso foi a dois dias, tentei voltar ao lugar no dia seguinte mas não consegui encontrar o caminho, nada me pareceu familiar, não encontrei a praça, nem as casas de arquitetura clássica.


Duas pessoas estavam morta e eu não pude fazer nada, por isso faço esse relato para que não me culpem e implorar para entendam pelo que passei aquela noite, e compreendam por que não fiz nada.